quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Verde água e cristal

Meditação: arte de abrir a mente e fechar a boca enquanto o resto do mundo faz o perfeito oposto;

domingo, 14 de outubro de 2012

Julieta, Ismália e Alphonsus

  Querida Julieta Capuleto,
  Escrevo-te porque me faltam bons interlocutores mais contemporâneos. E sinto dores quentes, pobres e incolores. E devo dizer, não há muito entendimento por aqui. Não há tempo para amenidades. Vivemos correndo, ocupados, mecanizados e armados. E isso me incomoda tanto...
  Inefável. Eu não sei o que isso significa, mas é uma palavra que parece se encaixar. A verdade é que acordei hoje em urgência, naquele estado pré-demência de falar.
              Vivo de Ismália,
              Quanta agonia!
              A mente me falha,
              Psico-ilogia
  Julieta, eu tive um sonho. Um sonho absolutamente perturbador e desde as horas mais baixas me pus a devanear. Eu não pedi pra sonhar, meu Freud! E não pedi pra acordar, meu Deus! E é por isso que eu me sinto pontualmente desrespeitada e tão cruelmente injustiçada nesse joguinho psíquico de azar.
  E qual é, afinal, sua teoria sobre o sonho? Passei algumas horas pensando nisso e resolvi verbalizar. O primeiro ponto é que vida e sonho parecem duas dimensões de existir. Qual seria, então, o critério para distinguir os dois? Passamos mais tempo acordados, isso é fato. Talvez seja esse o principal aespecto, não? Mas e se você dormir durante dois terços do dia? Estará autorizado a subverter os conceitos?
  Tente entender o que digo, falo com o espírito e todo o meu coração. Talvez você venha, então, me dizer, com sensatez, que é possível dormir sem sonhar, mas não dá pra acordar sem viver. E eu te peço, reconsidere, Julieta. Dentre tantos olhos abertos, parece haver inúmeros sonâmbulos. Não podem ser conscientes os que promovem jogos de guerra. Nem me parecem exemplos de lucidez os protagonistas de tablóides. Estão acordados, mas, honestamente, vivem? E vivem os miseráveis? E vivem os perseguidos, os adoentados e indignados? Estão de pé, abrem bem seus olhos, mas não sei se vivem.
  E ademais, quem foi que disse que há o dormir sem sonhar? Por que é que a falta de sonho não pode ser um sonho também? Se eu fingir que sonho de dia e que só vivo no sono, alguém poderá me questionar? Pergunto a você, Julieta, por que ninguém a meu redor parece muito disposto a divagar.
  De mais a mais, te explico, tive essa noite um sonho maravilhoso e absurdo. Havia alguém cuja aparência era empréstimo de uma pessoa real, mas cujas atitudes, palavras e trejeitos eram a manifestação adocicada de cada anseio do meu coração. É que ele invadiu meu quarto, falou sobre poesia, sorte e fez pedidos, elogios e imaginações. Pareço dramática, e o sei, mas você, tão íntima de Shakespeare, não há de me julgar. E após essa noite, me perturba abrir os olhos e desconsiderar. Encontrar mentiras e irrealidades no meu sonho? Que tristeza racionalizar.
  Devo dizer-te, então, que decidi. Não vou mais me questionar! Há tanto de vida no sonho, que abri mão de acordar.
              Vivo de Ismália,
              Quanta agonia!
              A mente me falha,
              Psico-ilogia.
  É nesse meu doce padecer que te conto, iremos já já nos encontrar. Se em sonho, ou em vida pós-mortem, que importa? Olhos fechados de qualquer forma, não há mais que teorizar. Não me despido de vida, me despido da dimensão acordada desse mundo. E penso que o sonho vai me bastar.
                                                                                                          Carinhosamente,
                                                                                                          Ismália de Alphonsus
"E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar..."
(Ismália - Alphonsus de Guimarães)

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Amarelo - com bolinhas cor de cristal

Penso que tem algo a ver com procura. Com cura - de um pedaço abstrato do corpo, mente, quiçá. Tem a ver com beijinhos na base do pescoço sob uma lua ou um sol qualquer. Que pra quem ama, dia cinza, chuva, ou estrela se fazem poemas... Mas isso é uma coisa pouco original pra se dizer.

Talvez tenha mesmo a ver com segredinhos medonhos, com carinhos coloridos e carinhas divertidas. Pra minha concepção, tem muito a ver com luzes e texturas. Como se o nosso coração fosse uma luminária de lava e a gente pensasse psicodelias gerais. Eu, aliás, adoro alternar: segunda é dia de psicopatia, terça psicodelia, quarta psicologia.
Somos seres psíquicos, pensantes, e vivemos despeitados pela falta de uma nirvana periódica. Preciso aprender a meditar.. Pra ver se me canso de tentar 'fingir que é dor a dor que deveras sinto'... Pra ver se abandono essa ousadia patética de teorizar. De desabafar em palavra o que nunca ninguém consegue expressar. Ahh, meu deus... Tenho o que dizer! Queira escutar

domingo, 23 de setembro de 2012

Bandeira dos Anjos

(no divã, suspira) _Aqui eu não sou feliz!

Analista: Mora entre feras e sente necessidade de também ser fera!

(levanta-se, resoluto) _Vou me embora para Pasárgada.

Enfermeiros: (imobilizando-o) Acostuma-te a lama que te espera.

(desesperado) _Lá tenho a mulher que eu quero, na cama que escolherei.

Enfermeira: (entra, empurrando uma maca)

Enfeirmeiros: (entre risos, vestem-no a camisa de força)  Somente a escravidão, esta pantera.

(baixando o volume da voz) _e como farei ginástica, andarei de bicicleta...

Enfermeira: (aplica a injeção) Toma um fósforo, acende o teu cigarro.

(já grogue) _Lá tem prostitutas bonitas, para a gente namorar.

Enfermeiro: (amarrando a camisa) a mão que afaga é a mesma que apedreja.

(sendo carregado para a maca) _Quando de noite me der vontade de me matar - lá sou amigo do rei - (adormece)

Analista: (impassível, imóvel desde o início da cena) Vês! Ninguém assistiu ao formidável enterro da sua última quimera.


domingo, 26 de agosto de 2012

Alfabeto

Acho bonito o cair da estrela - fio grisalho, hora invisível, jogo luminoso, mulher noturna. O preço da queda reembolsado em show tem um valor zircônico.

Antes - bem cedo - do esgotamento físico geral, hoje invento jovens livres, máquinas novas. O próprio querer reinará sobre tantas únicas vontades, zumbidos, aspirações de brilho. Como deprime desejar estrelas, estradas, fatias gordas, hipopótamos instalados em janelas líricas. Lembro meus negros olhares passarem por quantos rostos, por quentes rastros salpicados de tristeza úmida, vazia e voraz.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Sobre esses dias.

Eu estou no lugar errado. Mais errado...
Acompanhada, também, das pessoas erradas... E como, erradas.
Eu não sei bem por que diabos não consigo ser quem eu quero. Não funciona, não tem jeito.
Eu estou no lugar errado e tão cercada de gente tapada...
Eles disseram que não funcionaria... Que os medos ficariam e que nada de bonito chegaria depois.
Eu acreditei, é óbvio... Restos de festa, muita limpeza e pouca expectativa.

Dizia Campos de Queiros, ambiciono conhecer muitas palavras pra extravasar o inteiro que eu sinto. E não sei mesmo se importa, mas me importa se te importa... Mas sinto inteiros dentro de buracos.. E vivo em forjada complitude. Sou feliz, de longe e isso é sempre, porque tem pouca gente perto...
Eles disseram. E não sei se foi alerta, se foi agouro. Eu, é óbvio, acreditei. E pagaria pra acreditar de novo... Ainda não me arrependi das minhas fragilidades.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Ladrões de rostos

Vivemos à espreita... camuflados, disfarçados de noite no meio do dia. Roubamos rostos e não podemos ser vistos. Fazemos pior, nos apoderamos de sentimentos concretos, de ações adocicadas por puro deleite ou capricho estético - ou um devaneio artístico a se pesquisar. Amamos coisas bonitas - pra vender ou guardar. E somos fascinados pelo grotesco, pra poder sensibilizar - a nós e aos próximos, por que não? Pode mesmo ajudar... Brincamos de congelar tempos - longos ou curtos, quiçá? Fingimos produzir o que já está pronto - só nos damos na verdade ao trabalho de enxergar. Temos olhos mecânicos e sensíveis (em alto e claro paradoxês). Adoramos chocar, encantar - emocionar, enfim, custe o que custar.
Somos loucos por verdades e amamos simular. Montar e fingir também é acreditar.
Somos fotógrafos, temos vício por participar... Temos compulsão por registrar... Adoramos guardar em megas ou em negativos as memórias que queremos carregar. Somos discretamente invasivos, dissimuladamente sensíveis e cromomaníacos. Somos fotógrafos - a sofrer de docefilia, belofilia e apaixonados, malucos, fracos por movimentos - de explosões a pingos d'água, tudo que o olho humano pena pra captar.
Somos fotógrafos. Deus o livre e abençoe, amém.

domingo, 29 de julho de 2012

carta-explicação-consolo-desculpa

Intraduzível, pequeno e doído. Doído e doido.
Parece aqueles insetinhos que cavam... Cáries emocionais, eu disse uma vez.
Estou preso, preso em uma história a que você recorre as vezes. Vivo em livro, disco, foto e pensamento. E não posso ir e vir, sou de ficar. Ficar assim, sempre - quem foi que disse que esse verbo era pra coisa passageira?
Eu não machuco fisicamente, ou machuco discretamente - o que acaba quase sempre sendo a mesma coisa.
Acho que a gente tem dificuldades em enxergar o que é silencioso e calmo... A gente condicionou o cérebro ao barulho, ao vermelho, ao indelicado e estrondoso. Gostamos de escândalo, esperamos pelo dramático - que bando de desesperados, não?
Devo dizer até que não faço parte desse plural. Sou diferente e só observo, mas achei simpático me incluir na crítica... Uma pequena solidariedade, se me permite.

Enfim, não mutilo mas faço alguma coisa ressonar. E incrivelmente nunca fui vilão de nada... Só apareço quando há ou houve amor ou uma outra coisa doce qualquer.
Acho que digo doce demais, sou obsessivo por essa palavra, por esse conceito... Douceur em francês é doçura... Doçura de comportamento, brandura, ou delicadeza. Gentileza, aprecio. E não há beleza maior que a de viver avec douceur!
Acho que estou me desviando um pouco do que digo.

Nem sei bem se escrevo pra me desculpar pelo que causo... Por essa dor doce que eu costumo infligir. Acho que é mais ou menos por aí. Te escrevo porque te magôo, e não quero de maneira alguma me retrair, ou recuar, mas desejo te conformar. E te dizer que é belo ser frágil, sofrer de amores e de tristezas é bonito, é humano. E já disse antes do meu especial apelo pelo que há de humano.
Te vejo criança e ainda assim não te posso poupar. Porque existo e existir danifica... É bem aquela história de deixar impressões nas vidas que nos circundam, sabe?
Impressiono e te marco porque tens a admirável capacidade de ser tocado em alma.

E se amas e és feliz, é normal que padeças...


... De querência.

O meu nome?
Saudades.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Especialmente esquisito

A gente tem que ser um pouquinho mais complexo e confuso, que é pra não se vender tão rápido... Que é pra não se denunciar pela roupa.
A gente tá tão raso, faz tanto caso por pouco. Tá louco? Não quero. Não quero mais as mesmas roupas, as mesmas diversões baratas e bonitas de sexta a noite. Cansei, foi isso. Acho pequenino. Tão pequenino quanto todo mundo tem sido...
Sem arrogâncias, sem irreverências, opinião aqui - particular, abafada em desabafo, confessada até. Confessada porque o pecado é meu também - porque também me adapto, me misturo, me dissolvo nessa brincadeira de saltos e paetês - com bebidas, cabelos e conversinhas da moda.

Eu gosto. Gosto. Mas gosto demais de coisas de mais - assim, primeiro junto, depois separado - porque não dá pra ser só baladinha sem cabeça. Shake'n'squeeze girls, maromboys e esses conjuntinhos mais de barbie e ken.
Me gusta, às vezes, mas ainda acredito que deve haver mais que isso. Tem que haver. Tem que haver preocupações maiores, músicas melhores, palavras mais doces e um pouco maior expressão estética. A gente é usado porque usa sem pensar. Nada faz muito sentido, nada tem muito sentido, a gente nunca quer dizer nada com nada.

E se digo assim, em confusão, é porque penso assim, em fluxo, em desordem. E não seria isso daqui o que é se eu me policiasse em organizar.
Digo assim, em retalhos porque desde a última rotação terrestre ganhei uma nova mania, um objetivo a perseguir: quero demais me traduzir em aparência. Tenho sido meio abafada por um carimbo que não condiz muito com a minha mente... E ela tá louca de vontade de se exibir...

terça-feira, 24 de julho de 2012

lloucos.

a vida volta. volta a seguir.
a gente vai andando e o caminho faz umas dobrinhas pra gente ser estupidamente feliz. e dá vontade de morar nessas quebras, mas lá bem atrás, alguns grupos de idiotas tiraram da humanidade o privilégio tão lógico de viver só por prazer... e é por isso que o Carpe Diem virou demagogia ou filosofia de porra louca... e o que há de mensagem de paz e amor virou conversa de drogadinho.
a gente não pode se culpar por estar andando em rebanho, sem procurar pela melhor saída. é ridículo, patético, mecânico e seguro. e tão responsavelmente correto que faz a gente achar que é certo, até.
mas não é, e eu não me escuso de me sentir uma porta de imbecil quando eu uso uma camiseta com os dizeres YES STRESS. vangloriar o esgotamento do seu espírito? Puta que pariu.

E o mais triste nesse circo de horror é que a gente sente, e em momentos lúcidos - revoltados, alguns babacas diriam - a gente até percebe a merda que tá fazendo com a gente mesmo. Mas não tem muita irreverência pra combater... Porque lá atrás nos comprometemos. Comprometemo-nos com sonhos que nem mesmo sabemos se são tão nossos.
E vamos dia a dia comprando em doses homeopáticas a nossa lavagem cerebral, com o nosso modelo amarelado de sucesso e elite.

E quem é que sou eu pra falar em subversão, esquecida aqui bem no meio dessa linha de produção.

domingo, 1 de julho de 2012

de triste,

Te sinto falta. A cada dia e todos. E não é sempre do mesmo jeito, não é sempre dolorido... Às vezes é só sorriso, só torpor, só anestesia, até. Mas é raro... Em geral, é mal resolvido e faz te querer de novo, de volta, de perto. Não que tenha sido tão bonito assim, mas é que por aqui tá tudo pior, menor e mais chato. Tá tudo feio...e as pessoas? Bem vazias. Ou esvaziadas... Pelo pouco que desejam, pelo pouco que trabalham, pelo muito que sofrem e que fazem sofrer.
Eu te sinto falta todos os dias... Todos e cada. Porque me sinto como viúva solteira, como a esposa de um veterano de guerra, impossibilitado de mandar notícias.
E entendo suas ausências como um calculado exercício nobre de me preservar. Não acho que é, mas como há a possibilidade, acredito no que me faz bem. Contos de fada e ingenuidade são a minha religião... Só tenho fé no bonito e no curativo. E acho que as pessoas deveriam me copiar...

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Sobre tiros e suspiros

Pull the trigger... Para cada letra que eu digito morrem uns alguéns baleados por ninguéns.
Não, isso não é estatística tirada de lugar nenhum, é só palpite, ou premonição, ou sexto sentido até.
Pull the trigger...14 letras, uma ordem, um barulho e menos um. Acabou, pronto, se foi, não sei.
Isso não é início se campanha publicitária, nem dissertação escolar antiviolência - não que eu não seja antiviolência, mas falaremos disso depois. Pull the trigger... Enquanto ficamos aqui discorrendo acerca das mais importantes futilidades alguma coisa acontece. Em algum lugar. E a gente assim, sem pensar, sem nem se responsabilizar...
Mas e a globalização? E o instantâneo fluxo de informação? O mundo é grande, criança, a gente nem sabe como. E em cada cômodo em cada pequena casa em cada pequeno bairro de cada pequena cidade - não, não me refiro à cidade da sua vózinha, pense um pouquinho mais longe - existem alguéns. Cidadãos, indivíduos, homens, organismos, animais. Eles tem células, e dentro dessas pequenas células acontecem coisas... Acontecem e deixam de acontecer. Porque há pessoas puxando gatilhos e há pessoas recebendo tiros. Pull the trigger... Ou talvez não.
Sua cabeça, seu mundo.
Macabro, sinestésico... Disseram.

domingo, 17 de junho de 2012

O Elogio da Incoerência

Nossas esperas sim, se cansam... Vencem, se esgotam - por aí.
Nossa paciência recua, dá vontade, dá urgência.

Frustrações...não, não gosto de frustrações... Tem tanta gente por aí que vê o passarinho que Lisbela viu na gaiola, mas não vai. Porque prefere vida de triste que vida de trauma. Gosto de traumas... De tapas mentais... De tentativas, sei lá. Meu instinto de preservação nunca foi dos mais fortes... É que quem se preserva demais se encanta tão pouco.
Gosto de encantos. Amo tudo o que é bonito... Mas bonito assim, genuinamente, completamente. Não é bonito trabalhado, nem bonito exercitado, sofisticado e tantos mais... É bonito doce... Singelo, colorido. Feito de seda ou tule, de jeans não...

Não gosto de ordem... Me disseram uma vez que as coisas só são nossas quando as marcamos... Estragamos, arranhamos, adesivamos.
Francamente, os livros que eu não grifo não são meus... O meu universo sempre tendeu a desordem... Há que haver conforto no imperfeito... Isso é tão humano...
Aliás eu amo as coisas humanas... Amo o que houver de frágil, de humilde e de carente. E queria que o ser humano fosse humano... Mas ele tem sido bem pouco.

Adoro contos de fadas, e arte corporal e moda e filantropia. E não sei me decidir entre o interior da Bahia e o reveillón da Times Square. E é bonito assim... Gosto de contradições... Gosto de alternar boy band s e Eddie Vedder... Ouvir Cazuza e Bocelli... Há que haver comédias românticas e documentários preto e brancos... Há que haver muito instagram e Sandro Botticelli... É que unanimidades são burras, e a não contradição é quase sempre ruim demais... Pois não se pode ser de todo bom, e o coerente aceita a completa imperfeição.

terça-feira, 5 de junho de 2012

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mas a gente vive num tempo muito especial... em que as coisas tão muito possíveis, as distâncias tão muito pequenas. As vontades tão muito poderosas e acabam ficando também muito perigosas...Tenho carecido dessas conversas inconclusivas sobre a metafísica do convívio social... Sem pedantismos, sem teorias, sem arsenais de bibliografias... Somos, ali, pessoas e só... Pessoas pensantes, pessoas capazes de comover-se, é isso... Acho essencial discutir as polêmicas, acho essencial constatar como "o mundo está perdido"... Porque a não proposição de soluções mostra pra gente que existem outros perdidos, outros desiludidos, outros desgostados... E a identificação é essencial...Nunca soube ser sozinha de pensamento, sozinha de desespero... Solidão de convívio é suportável... Ser o último romântico é que não dá! Ser o último sensível é que eu não consigo..."hoje não dá, não sei mais o que dizer nem o que pensar... vou consertar minha asa quebrada, e descansar"

Ao amigo estranho,

Então você resolveu aparecer... Não bastasse existir, você tinha também que aparecer... E justo hoje, só pra me lembrar que aprecio muito você... Queria te dizer que nossa tarde me fez rir, me fez bem, me fez rever motivos pra sentir esse magnetismo por você... Imantado, inconstante, indecifrável, enfim...Queria dizer também que não te sinto paixões, nem coisas belas, dotadas de perspectiva, possibilidade ou conotações... Sem intenções, aliás - nem segundas, nem primeiras... Não é assim, não é vontade convencional, não é bonito, nem natural... É natural, aliás... Naturalmente esquisito - é desses sentimentos mais instintivos que verbalizados... E estou pra te dizer que você é caso único disso pra mim...Quis te dizer também que não tenho tido tempo de sofrer pelas suas mazelas ou de me preocupar com as suas sandices... Acho interessante que você encontre essa mãe de quem você tanto carece, mas minhas aspirações me impedem de candidatar-me ao cargo...Digo, enfim, que te desejo próximo de mim, se és ímã, nada melho que a pouca distância... E nunca resisti, não precisou, poxa...Que fique assim, caso singular, pessoa estranha... Fica bem, mas fica perto!

domingo, 3 de junho de 2012

ao que poderia ter sido (e não foi),

estou te escrevendo pra lamentar... lamentar potenciais desperdiçados, urgências negligenciadas, possibilidades dissimuladas.
pra te dispensar, perdoar, tentar te livrar daquele complexo papel de coisa que podia ter sido e não foi...
te queria assim, como roupa nova, coisa nova, sei lá.. antes de me traumatizar, de ter que te remendar, cansei de recomeçar... quero começar e só... sem segundas chances, sem perdões, cargas pesadas, malas de remorsos...
como tudo que não existe, você tinha a possibilidade maravilhosa de ter sido excelente pra mim... trazer equilíbrio, curar certas manias, certas psicopatias minhas..
sei lá, te queria simples, despreocupado, despreocupante. como tudo o que é só bonito, só saudável, só tranquilo. e não foi.
mas que bosta, não foi.


Rasgue antes de ler

não que suas acusações não combinem com as minhas usuais megalomanias, psicopatias, histerias, sei lá... Não que não haja por aqui gritinhos de orgulho ferido... É óbvio que sim e sim! Mas tenho andado sã demais pra não me defender diante disso. Dessa vez realmente não fui eu, dessa vez realmente não botei os pés pelas mãos! Fiz tudo certo... Nem te quis tanto assim, poxa. Tenho bebido demais, fumado demais e ouvido blues demais. Na verdade nem tenho, mas tenho pensado nisso, tenho me sentido assim - como esses velhos melancólicos em pubs enfumaçados ao som de um bom sax... E isso não tem nada a ver com nada, eu sei... Mas eu tenho. E tenho me empurrado, me apertado contra paredes imaginárias demais, tenho repetido demais, tenho tolerado demais... Não que isso não combine com as minhas usuais psicopatias, mas sei lá. Tenho cobrado muito e você tem me impressionado tão pouco, tem sido tão louco e bobo e raso e pequeno... Acho que sempre gostei mais de 'gostar' do que de viver, de escolher que de ganhar, de lembrar que de viver... Mas é que tenho achado todo mundo meio vazio demais... Tenho pensado dia a dia como nasci no tempo errado, no lugar errado... Como queria de volta um Cazuza, um Renato... Como queria aqui perto um Zack Condon, com seus acordeões... E tenho andado sozinha demais nesse meu jeitinho. A verdade é que pensar nisso têm me feito me amar demais. Caramba, você não imagina o valor que eu tenho dado a esse espacinho aqui na minha cabeça que é só meu... To tão ciente da delícia que é ter a mim mesma... Sei lá, sei lá, quem é que sabe, quem é que precisa saber?! Que coisa... E é por me sentir assim que tenho sentido um apreço, um apego, uma fascinação, talvez, pelos infelizes que não tem nem mesmo esse espaço... "Ter inimigos fora de si é perturbador, tê-los dentro da própria mente é assustador" (O Futuro da Humanidade). O mundo tá tão pequeno, tamanho único, individualizado, individualista e ao mesmo tempo massificado... É estranho, mas tanto é possível que é verdade... E a gente ainda se julga em posição de classificar médicos e loucos, de fazer divisões, classificações e comparações futilizadas. Cansei - por hoje eu cansei... "Parece cocaína, mas é só tristeza..."

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Mecânico...

Tenho temido tanto o perigo de mediocrizar-me... De uns tempos pra cá todo mundo tem se superficializado, se industrializado, sei lá... A gente ama, venera, cultua a tecnologia... Homem e máquina, criador e criação, imagem e semelhança, não sei... Gostamos de dinheiro, queremos concreto, adoramos poderes, prazeres, afazeres... E vivemos disputando: quem faz mais, em menos tempo, com menor envolvimento... Apego virou defeito, afeto virou pecado, altruísmo virou demagogia...E já não tenho tanta vontade assim de entrar na brincadeira, não quero, assim, bater ponto, uniformizar-me, saber nada sobre tudo... Viver de pele, de rosto, de superfície - que merda... É possível sim, que amanhã ou depois eu venha a ser tantas coisas que eu não admiro.. Talvez esse mosquito robótico me pique também - mas nessas brechas dos quiçás vou me ater ao máximo ao meu ideal de gente grande... Quem sabe?! Conhecer sem cristalizar, ter alguém que me ajude a manter poesia? A gente precisa de pesos e contrapesos... De artistas plásticos casados com médicas, poetas com engenheiros, astrólogas com técnicos de informática... Exercícios de sensibilidade, por favor, nos salvem de enferrujar... Queremos misturas, queremos contradições... Somos frágeis feministas, cavalheiros machistas... Acho que a gente carece de cuidados diários, de carinhos e cenários.. Acho que desejamos carruagens à espera - com a porta aberta, se possível...penso que queremos mesmo sucesso, reconhecimento e direitos iguais... Exigimos conforto econômico, participação política, mas, secretamente, sonhamos é com promessas, mirantes, propriedade sobre estrelas e atitudes em forma de verso... A gente quer rosas em redomas de vidro, quer conversas profundíssimas, quer poesias sussurradas e danças delicadas...Sem sexismos, sem maquinismos, só organismos, só humanismos...

domingo, 13 de maio de 2012

Sobre Lagartas...

Wagner Moura queria ter nascido mulher... "pra poder gerar uma vida, chorar mais ..." e por fim ter o objetivo de vida nobilérrimo de usar lingeries da Marisa. Bacana...
Eu nasci mulher... Posso mesmo gerar uma vida, choro podendo ou não e poderia ser compradora assídua da loja - " de mulher pra mulher", sabe como é?! Mas, inesperadamente,  eu preferia ter nascido formiga... E não qualquer formiga, não formiga de cidade, formiga de pão doce, formiga de sola de sapato... Queria ter nascido formiga de selva... De sítio, de mata, de santuário verde, sei lá... Queria ser dessas formigas que nunca viram ou temeram gente... Dessas que só conheceram sua propria hierarquia formigueiril - neologismos, eu sei... Ahhh, meus neologismos!
Pensando bem, vida de formiga é difícil... Patas demais, articulações demais, regras demais...  Bom mesmo deve ser nascer lagarta... Viver se arrastando, ser molinho, molenga e viver assim nesse ritmo zen... Lagarta pode meditar, porque não tem vida pra ganhar, não tem papel pra assumir... Lagarta pode fumar narguilé - não tem pulmão pra preocupar, não tem arteriosclerose pra incomodar...  Lagarta não tem dor nas costas - não tem nem costas pra alguém montar, pra alguém apunhalar, pra alguém ludibriar... Lagarta fica lá - meditativa, transcedental, respiratória e não tem nem conta pra pagar... Não tem vestibular pra prestar, eleição pra votar - é o que penso, mas, sei lá, até as aranhas de Machado têm sua Sereníssima República... Lagarta vai vivendo, comendo e um belo dia - plim - encasula, dorme, descansa de tanto descanso pra acordar depois borboleta... Vive os dois extremos físicos - ora grudada ao chão, ora livre no ar... Quando o enamorado de Bandeira disse à Antônia como ela se parecia com uma lagarta listrada, ela ainda pôde se ofender... É, "Antônia, você é engraçada, você parece louca!"... Que de melhor pode alguém querer que ser lagarta?!

Namorados - Manuel Bandeira


modelo: Lagarta Antônia, analfabeta, moradora de pedras e grama da Serra da Piedade.


sexta-feira, 4 de maio de 2012

"querido diário otário,"

Deu aqui uma vontadezinha quase infantil, quase imprudente de escrever pra desejar... Sentir de alguma forma minhas vontades mais próximas de se concretizarem... Dizem que quando a gente pronuncia, as coisas ficam mais reais, mais 'acontecíveis'. Dizem...
Acho chato falar sobre frivolidades, fragilidades, que soam ainda mais estúpidas nessas páginas floridas e rosadas... Nunca curti o papel de pequena grande crise, de pessoa reduzida a faixa etária... Não que eu queira de alguma forma me colocar acima disso - só acho que nossos dramas são assim meio individuais, ou deveriam ser, sem necessariamente serem endemias de adolescente...Endemias de meia-idade, chatices de velho, enfim...

Enfim, acho chato mesmo falar sobre frivolidades, mas falo porque sinto... E acho chato mesmo senti-las também...
Acho complicado querer a todo custo me livrar de mim mesma nesses confessionários mudos, nessas terapias pessoais - mas é complicadamente funcional...
É por isso que me dou aqui, a liberdade irrestrita de filosofar, sistematizar, teorizar, exagerar, dramatizar e me ridicularizar quantas vezes forem necessárias... Já me seguro tanto com tantas coisas, com tantas pessoas, em tantos lugares, durante todas as horas do dia...
Eu odeio sentir vergonha das coisas que eu sinto, das coisas que eu penso... Morro de inveja de certas maturidades, de certas clarezas, certas praticidades... Fico aqui, com arrependimentos e recalques do que nunca foi culpa minha... Fico aqui com lembranças maravilhosas de acontecimentos medíocres... É que as coisas são assim, muito mais bonitas de longe, muito mais valorosas quando passadas...
E é difícil essa vida de viciada em pretérito, de viciada em talvez, de viciada em querências, demências, falências...

sábado, 28 de abril de 2012

notícias suas.

Tenho nutrido uma admiração tão grande pelos que têm a capacidade de enlouquecer... Sem querer produzir mais um cliché chato de 'amor pelo diferente', odiando, aliás, essa necessidade de rotular-se as coisas em originais ou chavões... Fui tantas vezes obrigada a envergonhar-me da minha pieguice, da minha correção política, do meu romantismo descontextualizado... Fui obrigada vez ou outra a negar minha vocação reacionária por temer tanto o esteriótipo de pessoa subversiva, barulhenta... Acho que nunca gostei desses radicalismos, extremismos, categorizações... O que é feito na intenção de chocar é, a meu ver, ilegítimo...Mas é bem verdade, o ser humano tem uma dificuldade enorme de sentir sem nomear, sem limitar.
Voltando, enfim, ao que interessa, me agradam os estranhos, os sensíveis... Os que tem a capacidade de reagir às intempéries que existem... Me tiram do sério esses que insistem em sustentar fachadas marmórias de adultice, de esclarecimento... Me dirigem ao ápice da irritação a discriminação e o desprezo pelas mazelas emocionais, como se as perdas, as faltas, os choros fossem frivolidades, fossem infantilidades. Que tipo absurdo de lógica imbecil e pragmática é essa?! Quando começou essa obsessão pelo material, pelo concreto, pelo estanque?! Por que, meu deus, por que raios a gente se encontra nessa desespiritualização, nessa epidemia de indiferença, nessa síndrome de Just in Time?! E quem diabos vai integrar meu exército solitário, em nome do meu reino de uma rainha só, sem súditos, sem nobres?! Diga ao Lulu Santos que talvez o último romântico possa simpatizar com a última holística...
"Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra.” (Caio Abreu)... Não sei bem quem és, mas espero de verdade que a gente se encontre em breve... Se encontre bem...

Menos tristes pra sempre, como tenho dito ultimamente...

terça-feira, 24 de abril de 2012

Meio protesto

Passei um tempo tanto, um tempo santo tentando entender pra expressar... Tentando parecer pra me convencer.
Passo um tempo ainda tentando colocar em ordem todo esse processo mental... É que sou por demais sistematizada, por demais elogiada, por demais desvalorizada...
Ando meio cansada... Não consigo nem opinar, não consigo nem ajudar, já não posso me solidarizar... A gente assiste a tanta tragédia, a tanto apelo louco e não pode se permitir a ajudar... Porque é taxado de ingênuo, se não de hipócrita por um caminhão de razões tão pequenas... Acho que o mundo tem dificuldades em entender aquela noção de "se não puder fazer tudo, faça tudo o que puder" e nessa impossibilidade de ser perfeito, a gente acaba tendo que viver completamente defeituoso, porque meio certo não pode. E aí a gente é obrigado a não sentir... Ou sentir e não dizer... Ou sentir, dizer e não fazer...

É que cansei, me esvaziei, fatou palavra, faltou pavil pra queimar, pano pra manga, conteúdo pra caixa. Cansei de me cansar, de conviver sem gostar, de gostar sem amar... De meias-verdades, meias-palavras, meias-entradas e meias-misérias... De pessoas meio vazias com seus copos meio cheios. Cansei de meio dia, meia hora, meio tudo...
Tenho vivido assim, numa busca cansada pelo cheio, pelo completo, pelo extremo. E tá meio difícil expressar o tamanho completo da minha total frustração...

Sapiência, Homo sapiens... Por favor!

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Aos grandes,

"escrever é esquecer - a literatura é a melhor maneira de ignorar a vida." (Fernando Pessoa)

Estou escrevendo só pra me livrar do impulso de te escrever... Acho que concordo com o Caio Abreu, deve ser bom saber que a gente existe assim dentro de alguém... E deve ser mesmo, deve ser lindo... Mas melhor que isso é poder falar que você ainda existe por aqui...
Não sei te escrever, não sei resumir sem limitar, não sei exprimir ser dramatizar, não sei desabafar sem mais me enrolar. Não sei... No entanto todas as vontades me empurram pra isso... E que seja assim, torto, feio, errado - patético quiçá, mas sincero ao menos...
Vim dizer pro mundo as coisas que você talvez não queira ouvir... Na verdade não vim de lugar nenhum, não estou em lugar nenhum... É aqui e só.
Quero dizer que não entendi o que eu disse, mas gostei... Gostei de me livrar de palavras pesadas assim, palavras longas assim, palavras bonitas assim...
Quero dizer que não sei escrever-te carta e não te mandar...mas não sei também que mais posso fazer a respeito. Quero dizer muito, mais que isso: quero dizer demais... Tanto que não faço ideia do quanto, então eu tento, então eu treino, então eu durmo. E digo tanto, digo mais: digo que sei bem o quão chatas são as minhas repetições, as minhas idecisões, as minhas manias. Hipocrisias, hipocondrias, hipotonias... Digo que compreendo que você insuporte meus neologismos - salvação da minha humilde literatura, fundamento da minha expressão do que existe em mim de inexpressável...
De mais a mais amo os títulos bonitos, eles são a melhor das prisões, a mais livre e ampla. Amo roubar velhas ideias, criadas por mim em minhas honrosas encarnações passadas... Amo imaginar os donos dos livros dos sebos, amo repetir suspiros de leitoras agora centenárias...
Amo o poder das cartas, as românticas, as formais, os bilhetem - em guardanapos, de preferência... Amo o sentimento concretizado, documentado, assumido e registrado.
Somos pais do que sentimos, do que pensamos - e a primeira de nossas obrigações é garantir destes o sustento...

Que termine assim então a minha carta de fã de toda a produção literal... Humildemente,

quinta-feira, 12 de abril de 2012

a dissertação-devaneio-carta

ao som de: Perfeita Simetria - Engenheiros.
vivendo aquelas batidas saudades do que poderia ter sido...
não é difícil repreender a vida sobre todas os malfeitos, sobre todos os mal entendidos...
e a gente passa tempo demais preso a tantas hipóteses... passa tempo demais imaginando desfechos cinematográficos pra situações tão normais... e é viciante dar brilho pro que foi tão trivial. é o consolo de se ter vivido algo quase bonito.

acho mesmo que a pior coisa que pode nos acontecer é viver as emoções certas nos momentos errados... é conhecer a pessoa ideal numa sintonia tão tão diferente... e fica difícil saber se todas as variáveis vão poder assim se combinar e resultar em algo feliz um dia.
e a espera entre crises é de uma calmaria agoniante... é de uma paz cristalizada e bem cortante.
a gente vive reclamando das mazelas de gostar de alguém, de confiar, de se entregar, de vulnerabilizar-se... e no fim das contas, quando vem o nada o desejo pela dor vem em frenesi. dá uma saudade muito grande daqueles friozinhos nas barriga... daquela sensação mínima de sonhar com alguma coisa.
a autossuficiência é maravilhosa - nos primeiros momentos. com o passar de pouco tempo ela revela seu lado sozinho..."mas hey, mãe, alguma coisa ficou pra trás... antigamente eu sabia exatamente o que fazer."
e a delirar, a mudar de rumo, a me libertar assim, eu vim aqui pra dizer que eu tenho um medo muito forte de algum pedacinho meu ter ficado com você... vim aqui reivindicar, porque tá me fazendo falta aquela sensibilidade, aquela insegurança infantil... a frieza foi bacana, mas cansou, e se eu não precisar da doçura hoje, realmente espero precisar futuramente... não é nem justo que você tenha roubado a minha capacidade de me apaixonar.
então sejamos aqui racionais... que nesse mini-divórcio você se contente com o que ficou pra você: a sanidade mental, a integridade emocional, a presença nas nossas fotos, a posse sobre as nossas músicas... a casinha que nunca construimos na serra, a felicidade para relacionamentos futuros, a nossa coleção de DVDs. que seja, só me dê o que é meu, meus sentidos, sem sentido - reconheço - mas bem meus, bem vivos. devolva pra mim por favor a autonomia sobre meus pensamentos, o controle parcial dos meus sonhos, a capacidade de reprimir certas lembranças. que eu tenha de novo a capacidade de não apostar no seu nome toda vez que tocar o telefone - qual é a dificuldade em não saber quem é, atender e pronto: descobrir? que eu tenha de novo a capacidade de te excluir de comparações... que eu pare de me enxergar como a metade de nós e seja inteira, de novo.
com o perdão da minha mistura, nessa dissertação-devaneio-carta; sem me importar de fato,
um beijo, atenciosamente, enfim, certa de sua cooperação.
passar bem...

domingo, 8 de abril de 2012

só de ida.

mas se nossos pedidos de desculpas demoram demais, se nos ausentamos por muito tempo, corremos o risco de encontrar outra pessoa no retorno...
desde o seu dia de partida, eu mudei tão completamenre que eu não tenho nem motivos pra desejar, nem motivos pra aceitar suas retratações... a pessoa a quem você devia desculpas não tá mais aqui... e foi embora sentindo sua falta. e meu novo eu não teve tempo de se acostumar a você... não teve chance, não vai querer.

os nossos erros tem assim, prazo de validade... a hora de se arrepender passa, se perde. as coisas carecem assim, de cuidados próximos e as tristezas toleram pouco.
olhe bem a hora de voltar... e se puder olhe antes de sair.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

O ladrão de praias

Era uma vez um velho político...
ele não se parecia com o que conhecemos da classe... e não, não estou fazendo um elogio.
como pôde então ser diferente do perfil que conhecemos mas ainda assim ser ruim?!
Ele não teve mandatos de 4 anos, não fez jingles no horário eleitoral, não distribuiu cestas básicas ou apelou pra formas de paternalismo. Como pôde então ser ruim?!
Ele reinou, mandou e desmandou por 42 anos. Matou, abusou, violentou por 42 anos. Foi corrupto por 42 anos...
Roubou as riquezas, roubou a liberdade, roubou a paz dos seus governados.
E que princípios de direitos humanos podem aplicar-se a alguém tão desumano assim?!
Sua morte estampou jornais mundias no último outubro, durante a primavera brasileira, simbolizando o fim da mesma estação na Líbia... Estação esta que na Síria parece nunca ter fim...
É triste o que fizeram com as primaveras... A imagem de campos floridos tomou trejeitos de alienação, já que o jargão midiático parece ter criado um novo significado. O que significava flor, sol, cheiro, significa agora choro, guerra, revolução - necessária, digna de orgulho, mas sangrenta e triste.

O pesadelo líbio parece ter acabado com o tal desfecho, cuja violência é lamentavelmente coerente à realidade da revolução. O que veio aos jornais hoje, entretanto, mostrará às almas mais sensíveis uma nova crueldade de
Gaddafi...uma nova psicose, um novo despropósito.
Não bastasse roubar a liberdade, a paz e as riquezas de seus governados... Não bastasse ceifar na Líbia as noções de direitos individuais, o ditador - de maneira quase absurda, quase fictícia - achou-se no direito de roubar também a natureza líbia... Para sua mentalidade doente não lhe pertenciam apenas o dinheiro e o poder do país... Julgou-se digno de possuir também as praias do litoral... Considerou-se - sabe Deus por que- herdeiro legítimo do sol, do mar, da areia que a homem nenhum deveriam pertencer...

A notícia dos jornais, de que Líbios ganharam hoje o direito sobre diversas praias de seu país parece humorística, parece literária. Gaddafi sentiu-se como um dos homens visitados pelo pequeno príncipe, donos de planetas, donos de mundos...
A sociedade há tempos privatiza o invedável, a sociedade há tempos comercializa o comum...
Era uma vez um velho político, dono de riquezas, dono de pessoas, dono de um país... Sem noções políticas, sem noções humanísticas... Que não viveu feliz pra sempre... Que não viveu.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Prezados senhores livreiros,

Não tivemos voz, não fomos consternação de leitores ou escritores. Nem mesmo os mais conservadores, loucos por antiguidades como nós, se propuseram a nos defender. Não tivemos voz, não temos sindicato, bancada política ou simpatizantes. Não temos dia no calendário, não votamos, não compramos, não valemos. Não há política que nos abranja, não há ONG que nos proteja. Não temos credo, nem cor, nem gueto. Não sei por que acreditamos existir.
Gostamos de arte, amamos os livros, devoramos obras literárias. Respiramos papéis, sonhamos com bibliotecas. Não discriminamos gêneros, somos loucos por livros. Mas não tivemos voz.
Não tivemos e não devíamos ter. Vamos aos senhores por meio escrito, nosso meio. Não iremos nos ater ao falado, somos aficionados pela tinta no papel, pelo grafite no papel, pelo silêncio no papel. Seja assim, como lhes convier, mas não nos privem do papel. Acrescente-nos na lista de razões para não aderir aos e-books. Precisamos de livros assim, concretos.
Certos de que ainda que inaudíveis, pudemos fazer-nos legíveis, com nossos montes de palavras, agradecemos,

As Traças da sua estante.

domingo, 1 de abril de 2012

sobre cativar

"a gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixou cativar." mas ainda bem... ainda bem que existe o choro, que existe o cheiro, existe o doce que é gostar de alguém...
Porque é assim que existe a vontade de se teletransportar, é assim que a gente morre de saudade pra depois reencontrar, é assim que a gente aprende a rir sozinho, a rir do nada, a morrer de rir. A gente aprende a se preocupar, aprende a confiar e se dividir mesmo. É bonito... O apoio que se dá sempre volta quando a gente quer... E se não volta a gente chora, chora e pronto. Passa. Mas o que se vive vale, vale a pena, vale a cena, vale o mundo.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Juri Popular

As pessoas experimentam uma comoção muito grande quando assistem às tragédias no jornal... Mas superam isso logo que começa a novela. Me preocupa muito mais o depois, o invisível, o que não consta na reportagem... Me preocupa o filho caçula da vítima que não foi entrevistado, mas passará bons anos perguntando pelo pai... Me preocupa demais o estrago psíquico no motorista que cometeu homicídio culposo... Me incomoda qualquer tristeza que vai perdurar quando o ibope da notícia se esvair. Uma vez só tente ver a tragédia do Realengo sob a óptica de uma das faxineiras que limparam o sangue na escola, tente pensar no que sentem até hoje as pessoas que estavam no ponto de ônibus quando João Hélio passou em via sacra. Tente pensar nos lutos que não viraram notícia. Que nossa comoção se reforme, se informe, enfim.

domingo, 11 de março de 2012

fatalidades a parte...

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse neste domingo estar "profundamente triste" pelo massacre de 16 civis no Afeganistão, mortos supostamente por um soldado americano.



Meus prezados amigos afegãos,

Nós queimaremos vosso livro sagrado, pisotearemos vossa tradição, desconsideraremos vossa humanidade...
Invadiremos vossa pátria, fincaremos vosso solo com nossas tendas militares. nós nos banharemos em vossas águas, ergueremos em vosso céu a nossa bandeira.
Abusaremos de vossas mulheres, assassinaremos vossos familiares - idosos ou crianças. descarregaremos nossas psicoses em nossos gatilhos... exploraremos vossos recursos naturais, nos apossaremos da vossa economia e decidiremos vossa política.
Mas ainda assim, como num passe de carisma e reciclagem de caráter, enviaremos nossas simpáticas e repulsivas condolências. negaremos, nos esquivaremos - incidente, fatalidade - nomearemos assim.
Sem mais, estejam com Deus - o nosso, nunca o vosso.
Once again, I apologise for any inconvenience.

Sincerely,
The United States of America government.

arte-fato

Engano pensar que amor é a presença crua de alegria... relacionamento é a coexistência harmônica de velhas dores que por si só se confortam, se amenizam... já vi amores felizes que dividiam-se entre o colapso e o fim... porque feliz a gente se basta, o que pede companhia é a tristeza... e ainda não vi beleza maior que a do choro solidário... a crise nada mais é que a indiferença entre as tristezas, a gente não suporta ser ignorado quando há medo...
ode é paixão, amor é elegia... sem mais.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Pra minha coleção de dramas que ninguém mais aguenta ouvir

mas o pior dos meus traumas vai ser sempre o mais recente... não sou boa em comparações e melhor ou pior sempre me pareceram adjetivos absolutos demais... meu amor de hoje é o maior, porque já nem me lembro daquele de ontem...e pro meu choro vale o mesmo!
é que por fim, o que me assusta é ver que você me conheceu a fundo demais e não sofreu o menor encantamento... Eles dizem por aí que ser você mesmo é uma potente arma de sedução, mas isso é quase cruel se não há sucesso. Tenho a impressão de que você me dissecou, me vasculhou e não achou o que pudesse te cativar... O que diabos me resta então para continuar nessa empreitada tola de pagar pra ver alguém se apaixonar? Recolher os meus caquinhos nunca cortou tanto as minhas mãos - pelo menos que eu me lembre.

cada qual com seu carma aparente.

beleza é peso. é desafio. sorte também é difícil de se administrar,
quem é bonito deve passar o resto da vida tentando provar conteúdo e sendo bonito demais pra ser médico, bonito demais pra ser simpático, bonito demais pra ter tido algum mérito. todo mundo cresce pensando que o esforço é pros feios, é pros pobres, é pros burros.
e é até bacana o lado desavantajado da situação... porque a esse naturalmente se impõe um brilhantismo ao sucesso..."poxa, ela é tão interessante que até parece mais bonita.", "caramba, ele veio de uma pobreza tão extrema e conseguiu ser medíocre."
nossos julgamentos parecem sempre meio cegos pelo que enxergamos na superfície. a gente só se esquece de que tá julgando cruelmente um fator aleatório demais, cruel demais. a gente só se esquece que ninguém determina a cor dos próprios olhos, ninguém determina os traços faciais que terá. existe mesmo uma carga de responsabilidade por características assim? qual é mesmo o mérito em se ter uma aparência naturalmente admirável? existe mesmo fracasso em não se destacar na loteria genética?
e resultam desses questionamentos patéticos cirurgias plásticas precoces, inacreditáveis traumas de auto-estima e aquela nova modalidade de "gordinho-feliz", gente que se conforma com o ridículo e reforçam ao máximo a ideia de que não se ofendem com nada... se de fato isso lhes acontece, são super heróis, meus parabéns. mas pelo que sei dessa espécie aqui, o comum é a gente se importar - e muito - com o que pensam de nós. nos derrubamos as vezes com o pouco que sabemos, imagine só que poder teriam as maldades que nunca nos foram ditas? que Deus nos livre de tamanha tristeza.

e por fim, que tal soa valorizar mais os valores que possam de fato ser batalhados e adquiridos? só pra assim deixarmos que os inteligentes sejam bonitos, que os bonitos sejam inteligentes, que os feios ouçam a música que quiserem e que em geral as pessoas tomem as rédias dos seus carmas.



"Saber voar, fazer mudar
Queria ser diferente
De tanta gente, por que, meu Deus?
Falar pro mundo o que eu penso
Às vezes posso ter algo pra te acrescentar
Não basta querer, tampouco ser, me digam o que vai
bastar..."
(Se Ela Nunca me Amar - Ben Roots)

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

nó.

to com as ideias assim completamente emaranhadas. aquela velha história de "nó de marinheiro", conhece? acho que preciso começar a desfazer a bagunça por alguma ponta e vai ser essa aqui mesmo.
acho que continuar o que eu tava fazendo é um jeito clássico de abafar o que eu penso em lugar do que está sendo exibido por aí. e isso é bacana, é bem anestésico, bem relaxante... mas uma hora a gente acaba sentindo saudade de bater um papo com a gente mesmo, né? quer dizer, não sei nem se esses meus plurais de "a gente" e "nós" são petulantes, mas por favor, tenha a audácia de selecionar aqueles dos quais quiser se excluir - eu sinceramente não me importo.
mas é assim mesmo, tô com saudade de quem eu costumava alimentar com livros, com notícias, com um mínimo de gostinho cultural. talvez isso seja a clássica e inaceitável overdose de férias. talvez seja a assustadora e rejeitada saudade da rotina, da correria insana de rezar por uns momentinhos de sossego. acho que esses momentinhos são muito mais valiosos quando não os temos - experimenta só dispor de uns dias pra você e você verá invariavelmente como é fácil jogar fora o tempo livre. com o sono é a mesma coisa - é impressionante como gosto de desejá-lo e não de tê-lo de fato. não que valha a pena, não que seja motivo pra tristeza. não é bom e nem ruim. só é.
e como esse exemplo a gente acaba sendo um tanto de coisas.

entendeu? nem eu.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

se fosse uma vez...

que se não bonito, agradável. se não interessante, pouco raso.
se não lisonjeiro, pouco bravo. se não esperto, pouco tolo.
se não doce, só meio-amargo.
que esses extremos entre o que se quer e o que se ganha não brinquem comigo sempre. não brinquem comigo com relação ao que importa.

não, esse afeto educado não me é suficiente. mas, por ora, ele não chega a ser inferior aos afetos intensos que eu almejo - irreais demais, pouco melhores.

e que o cavalheiro cavaleiro que o tempo há de me mandar deslocado, viajado, descontextualizado não se demore tanto quanto aqueles que nunca chegarão. que demore o tempo da espera em lugar do tempo do desespero, da desistência.
e que vivamos assim, menos tristes pra sempre. menos sós por ora.                                 

domingo, 12 de fevereiro de 2012

99/100

é que passei anos e meses e dias demais tentando colecionar mil virtudes só pra você gostar! Não do jeito ridículo de quem não se dá valor... Mas do jeito de quem gosta muito do outro mesmo, do jeito de quem quer ser gostado de volta também!
E agora recolho aqui as mil críticas que eu te tenho... Não porque seja o mais fácil a fazer... Elas saltam da ponta da língua há muito, mas é que percebi que todas as vezes que critiquei, mesmo que sob a fachada de: 'já desisti', o que eu queria mesmo era alguma mudança... A gente não disseca assunto encerrado!
E vou além, digo também que a minha vontade de encerrar nunca teve a ver com orgulho, nunca foi pra que você se tocasse... Mas é por mim mesma...mas é porque acreditei na máxima fascista de que "uma mentira dita 100 vezes se torna verdade"... e essa é a nonagésima nona vez que eu te digo: o senhor é NADA pra mim!

domingo, 15 de janeiro de 2012

quase.

Boa noite,
Como vão as coisas por aí?
Sabe que hoje quase te liguei? Acho que queria me desculpar pelas coisas que tanto pensei e quase te falei. Sei que isso quase não te magoou, mas é que a medida que se estreita a distância entre o planejado e o concretizado, fica quase insuportável meu impulso em confessar minha quase-culpa.
É que acabei de ler aquela tal revista quase inteira. E me entupi de notícias de quase-condenações de perfeitos culpados, dividindo a página com quase-poemas de renomados colunistas quase graduados em economia. Tinha também aquela notícia padrão, que se repete quase a toda edição da quase-descoberta de um planeta quase igual à Terra. Uns testezinhos a mais e quem sabe isso se defina logo - pelo sim, pelo não, abandonando logo esse quase.
E aí me lembrei de me parabenizar porque hoje quase não fugi da dieta, arrumei a casa quase toda e ouvi um disco quase inteiro. Agora mesmo, notei que estou quase convencida a me esforçar um pouquinho mais em prol das minhas resoluções de ano novo. Estou quase cabendo no meu vestido novo, quase gostando de Metallica...quase pirando com a mediocridade dos meus quases.
É que parei pra constatar - quase conscientemente - de que meus quases são nãos. É que se eu quase gosto, eu não gosto. É que se quase-condenações são absolvições, quase-mudanças são nada.

E é por um delírio qualquer assim de um domingo a tarde que resolvi te dizer o que fazer com seu quase-amor por mim. E posso soar quase-mal educada, mas é nesse ponto aqui que nos dois percebemos que nem é preciso que eu fale o que eu quase falei. É que você é quase esperto - um perdão ou uns aplausos ao meu requinte de crueldade, dependendo de quem lê - e está pelo menos grandinho para entender minhas meias-palavras. Pelo menos é o que eu pressuponho de alguém que sempre se mostrou tão afeiçoado à metades.
De qualquer forma, demos quase certo, não? Porque você é quase bom o bastante.
E agora cometo o pecado quase imperdoável de citar sem autorizar (no sentido quase-inédito ou quase-dicionarizado de mencionar um autor): "é que quem quase morre ainda tá vivo, mas quem quase vive, já morreu.".

Quase carinhosamente,
não dando a mínima na realidade,
com a certeza de que você quase me entendeu,

Eu inteira.

sábado, 7 de janeiro de 2012

ao "bom" ex,

aquele momento tão maluco de se perguntar se a saudade é sinal de recaída ou é o tão sonhado amadurecimento emocional...
sonhei sempre em ser alguém bem resolvido, alguém seguro de si... quis lutar pelos meus interesses, ter amor próprio, exigir o tão falado respeito alheio. acho isso bonito, adulto, invejável, de fato. mas aqui, entre nós, não há porque ostentar fortalezas inexistentes, e assim, devo dizer que essas virtudes nunca foram minha realidade. mas uma garota pode sonhar...
é uma pena, porque não sei o que representaria pra nós eu te procurar agora e te dizer o quão maravilhoso você é como pessoa... te dizer que a minha raiva, o meu medo, o meu amor - também - já passou. mas um carinho ficaria e ficou e qualquer resquício de confiança também. mas eu não sei se isso soaria tão amigável quanto de fato é... parece que alguém fixou um manual de conduta que proíbe conversas desinteressadas entre pessoas que compartilharam grandes histórias passadas. e pra ser mais sincera ainda, não sei nem até onde é confiável meu conhecimento e controle sob as minhas emoções... não quero que esse meu crescimento seja pegadinha pra problemas e problemas e ainda assim, sendo otimista e supondo-se que eu esteja 100% segura da minha parte, quem sou eu pra tentar afirmar o mesmo sobre você? "eu sei que alguma coisa minha em você ficou guardada" só não sei bem o que e nem que tamanho e força isso tem... e tenho me sentido meio proibida de reaver. você é quase um campo minado, e pisar numa bomba agora seria uma tragédia a minha batalhada auto-estima.
nunca é completamente seguro brincar com fogo, né?
mas é que tenho pensado mesmo em você - de uma maneira nada romântica e nada ressentida. só acho que tenho passado por um momento de carência de bons amigos, bons colegas... tem faltado por aí gente divertida, confiável, educada. e essas lacunas acabam sugerindo você - apesar dos seus apesares...
engraçado, mas de uns tempos pra cá tenho acertado tantas contas com o meu passado... tenho me dado presentes que hoje nada valem, mas que anos atrás seriam fabulosos e perfeitos. e não sei até onde isso é saudável, porque tem sempre aquela mentalidade de vinheta global de fim de ano me martelando os pensamentos, sabe? 'rumo ao futuro, novos tempos' e blá blá blá.. vida real é diferente... acho que é difícil construir em cima de bases fracas... talvez seja por isso que essas eu tenho trabalhado demais.

por fim, tenho pesado os prós e contras em contatar você e acho que vou acabar me decidindo por não fazer nada. dormir com o impulso, segurar a onda. de qualquer modo, se eu mudar de ideia e resolver me dirigir a você, espero que tudo o que eu disse te explique as minhas reais intenções.

atenciosamente,
quem eu fui.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

muito gelo e 2 dedos de água.

ao som incrível de
e não me culpo, mas passei a tarde comparando o amor à uma garrafa cara de whiskey.
acho que tem dessa de envelhecer pra valer, sabe? fiquei pensando que são muitas mesmo as adversidades que surgem em qualquer tipo de contato humano, mas tive a audácia de subestimar todas! Francamente, acho que fatores como a distância, o stress do dia-a-dia, o ciúmes e outras cositas más nem se comparam ao tempo, no que se refere à potência para mudar sentimentos...
poxa, em qualquer lugar do mundo me sinto da mesma forma com relação às pessoas que escolhi pra gostar... e me consideraria muito volúvel se não fosse assim... só que não posso dizer o mesmo quanto ao passar de meses e anos... isso sim é capaz de provocar as menos prováveis reviravoltas.
me impressionam mais os amores que duram décadas do que os que resistem a muitos problemas... mesmo que o passar dos anos seja muito tranquilo, tá na nossa natureza a reciclagem emocional... disse Joaquim Macedo: "minha alma é sensível demais para reter por muito tempo uma mesma impressão", e ainda não conheci humano que no fundo não fosse assim...
acho inclusive que é mais fácil resistir à tempestade que à calmaria. porque o tédio é um veneno em qualquer proposta que nos fazemos... é difícil conviver bem com a rotina... com a falta de desafio. é difícil continuar querendo o que já conquistamos... há tanta vida lá fora, a moda agora é o consumismo de pessoas. a gente compra aos montes, usa um pouquinho e troca. bacana, difícil é se opor a isso, não?


se concordar, fico feliz... só não vá usar disso para trocar o amor pela garrafa de bebida, por favor. o primeiro é mais doce.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

pra crescer também...

Tenho recusado todo o tipo de remendo... todo o tipo de semi-novo, de reciclado.
Não combina com o ano-novo, não combina com meu vestido novinho, não combina com a minha cabeça madura - recém construída, vale frisar.
É que, poxa, nunca fui das garotas mais sortudas do mundo, mas tenho a plena consciência de que despachei algumas oferendas de uns tempos para cá e sempre gostei demais da ideia de ser uma pessoa seletiva. E o motivo pra isso é simples: alguém que espera sofrer por tudo, tem o direito de pelo menos sofrer pelas coisas certas. Aliás, acabei de me lembrar de uma segunda razão: tenho uma dificuldade incrível de me lembrar do filme a que assisti semana passada, mas uma facilidade imensa de me apegar aos meus traumas. Ainda não domino a arte de perdoar sem me lembrar, não sei não cobrar, jogar na cara, sentir um ciúmes muito forte. Caramba, nunca fui um exemplo de segurança e bastam as penas que eu mesma sinto de mim, não admira que eu não lide bem com os males que já me causaram. São neuras bem concretas, bem mais pesadas que as minhas várias loucuras puramente ficcionais. E é pela plena consciência de que não consigo administrar isso que pulo fora de qualquer vigésima tentativa - e quando fui fraca e aceitei as segundas, terceiras e décimas, invariavelmente me dei mal.
Não consigo carregar malas pesadas, históricos assustadores, traumas e inseguranças, sinto muito.
E tem mais... não consigo também insistir no que a princípio não me agrada muito. É que acho que paixão é uma coisa que surge muito rápido e eu ainda sou meio romântica pra aturar situações desprovidas de muita magia - dessas mesmo que se perdem em 2 semanas, mas que seja.. ainda é friozinho na barriga, ainda é empolgação infantil e me desculpa, mas é a minha única exigência inicial. Já aguentei todo tipo de idiota, mas todos com a capacidade de me despertar algum tipo de expectativa. E não estou dizendo que fossem duradouros não, mas pelo menos podem ser chamados reincidentes.

Anyway, que apareçam nesse mundo menos pessoas atraentes e mais pessoas interessantes. Porque atração dá e passa, interesse se sustenta. Que preencham-se as almas ao invés de ocupar o olhar.
Um mínimo de profundidade é altamente recomendável em qualquer tipo de intelecto...

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

prazo de validade.

mas é claro que vai ser assim: mais hora menos hora ou eu me canso de negar ou você se cansa de perguntar...vai ser quando voce se cansar de enrolar ou eu me cansar de tolerar?

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Minha querida menina,

Finalmente nos encontramos não? Ouvi falar bastante de ti e devo dizer que és extremamente semelhante ao quadro seu que pintei na mente. É que como décimo sétimo, ouvi descrições suas de outros dezesseis anos e devo dizer que só te imaginei um pouquinho mais esbelta e mais loira - nada que não vá mudar de um mês para outro.
Sei que passaremos juntos um tempo relativamente longo e muito importante para as tuas expectativas e sei que geralmente és tu quem dá as cartas por aqui, quem pede, ora, faz planos de metas e invariavelmente reclama se algo foge ao teu plano - sem injustiças, eu sei que nem sempre exageras e que geralmente esse "algo" é coisa demais, mas queria dizer-te que só para variar, dessa vez quem vai fazer pedidos aqui sou eu.
Peço que sejas um pouquinho mais enérgica... que saibas dormir bem, comer bem e que por todo o amor de Deus, pare com essa mania irritante de gastar mal teu tempo. Nós dois sabemos que tu precisas de descanso, mas para isso é essencial que te livres desses vácuos que preenchem sua agenda - que é quando nem produzes, nem relaxas, nem te divertes. Durma, saia, coma, leia, veja filmes - qualquer coisa - mas por favor, gastar essas brechas tão valiosas com pessoas e atividades insignificantes, não... porque o resultado disso, quem sentirá sou eu quando tiverdes ferrado teu ano e reclamarás em alto e bom som na noite de Reveillón.

Em segundo lugar, abstraia, criatura. Por favor, pares com essa mania louca de controlar o que não depende de ti e é trabalho meu. Que tal ser um pouquinho mais serena só para variar? Creio que não tens muito o que perder, e creio que hás de convir que pelo sim pelo não os resultados de quando tudo ocorreu do teu jeito não são lá os mais satisfatórios. Na pior das hipóteses tudo será como sempre - o que torna a minha proposta algo bem isento de riscos. E antes que ignores alguns pontos do meu pedido, saiba que estão inclusos na proibição aqueles teus arrependimentos pelo que não fizeste. Que diabos de mártir estúpida és tu, garota? Ou achas realmente que o real motivo para que ele nunca ligasse foi a mecha de cabelo que caiu sobre teus olhos em X  momento, ou uma palavra que disseste? Ou achas realmente que havia algum modo de salvar aquela amizade que há anos se arrastava fraca? TE LIVRA DESSE COMPLEXO DE CENTRO DO FRACASSO, DE OLHO DO FURACÃO.

Por fim lhe peço que goste-se mais. Que te elogies, te cuides, te encha de agrados e de ânimo. E não é porque sou militante dessa teoria cansativa de amor próprio, autossuficiência e blá blá blá. Concordo contigo em achar que receber cuidados de outrém é muito mais eficiente e agradável, o problema é que tenho observado que o mar realmente não está para peixe. As pessoas têm sido idiotas e só pioram de uns tempos para cá - o que reduz demais a disponibilidade de encontros (amorosos ou não) interessantes - siiiiiiim, essa é a razão, não há nada errado contigo. E na falta de quem te cuide, em lugar de aceitar qualquer migalha, só para variar, experimente seus próprios cuidados. Não vai ser mais fácil não, mas é mais digno pelo menos - e muito menos cansativo, eu juro.

Penso que é essa a pessoa que eu desejo comigo esse ano. Alguém que durma mais, trabalhe mais, se divirta mais, se desgaste menos e que por favor, reforce o filtro seletivo. Por favor perdoe a audácia de inverter os papéis esse ano. O jeito de ter um feliz ano novo é esse e não fazer um brinde à meia noite, pular 75 ondinhas ou comer 3 sementes de abacate.
Por último, se te conheço bem, peço que leias alguns dias seguidos essa carta, até que te convenças por inteiro do que digo. Se gostas dessas linhas, podes saber que nos daremos muito bem.

Carinhosamente,
2012.