domingo, 23 de setembro de 2012

Bandeira dos Anjos

(no divã, suspira) _Aqui eu não sou feliz!

Analista: Mora entre feras e sente necessidade de também ser fera!

(levanta-se, resoluto) _Vou me embora para Pasárgada.

Enfermeiros: (imobilizando-o) Acostuma-te a lama que te espera.

(desesperado) _Lá tenho a mulher que eu quero, na cama que escolherei.

Enfermeira: (entra, empurrando uma maca)

Enfeirmeiros: (entre risos, vestem-no a camisa de força)  Somente a escravidão, esta pantera.

(baixando o volume da voz) _e como farei ginástica, andarei de bicicleta...

Enfermeira: (aplica a injeção) Toma um fósforo, acende o teu cigarro.

(já grogue) _Lá tem prostitutas bonitas, para a gente namorar.

Enfermeiro: (amarrando a camisa) a mão que afaga é a mesma que apedreja.

(sendo carregado para a maca) _Quando de noite me der vontade de me matar - lá sou amigo do rei - (adormece)

Analista: (impassível, imóvel desde o início da cena) Vês! Ninguém assistiu ao formidável enterro da sua última quimera.