quarta-feira, 20 de junho de 2012

Sobre tiros e suspiros

Pull the trigger... Para cada letra que eu digito morrem uns alguéns baleados por ninguéns.
Não, isso não é estatística tirada de lugar nenhum, é só palpite, ou premonição, ou sexto sentido até.
Pull the trigger...14 letras, uma ordem, um barulho e menos um. Acabou, pronto, se foi, não sei.
Isso não é início se campanha publicitária, nem dissertação escolar antiviolência - não que eu não seja antiviolência, mas falaremos disso depois. Pull the trigger... Enquanto ficamos aqui discorrendo acerca das mais importantes futilidades alguma coisa acontece. Em algum lugar. E a gente assim, sem pensar, sem nem se responsabilizar...
Mas e a globalização? E o instantâneo fluxo de informação? O mundo é grande, criança, a gente nem sabe como. E em cada cômodo em cada pequena casa em cada pequeno bairro de cada pequena cidade - não, não me refiro à cidade da sua vózinha, pense um pouquinho mais longe - existem alguéns. Cidadãos, indivíduos, homens, organismos, animais. Eles tem células, e dentro dessas pequenas células acontecem coisas... Acontecem e deixam de acontecer. Porque há pessoas puxando gatilhos e há pessoas recebendo tiros. Pull the trigger... Ou talvez não.
Sua cabeça, seu mundo.
Macabro, sinestésico... Disseram.

domingo, 17 de junho de 2012

O Elogio da Incoerência

Nossas esperas sim, se cansam... Vencem, se esgotam - por aí.
Nossa paciência recua, dá vontade, dá urgência.

Frustrações...não, não gosto de frustrações... Tem tanta gente por aí que vê o passarinho que Lisbela viu na gaiola, mas não vai. Porque prefere vida de triste que vida de trauma. Gosto de traumas... De tapas mentais... De tentativas, sei lá. Meu instinto de preservação nunca foi dos mais fortes... É que quem se preserva demais se encanta tão pouco.
Gosto de encantos. Amo tudo o que é bonito... Mas bonito assim, genuinamente, completamente. Não é bonito trabalhado, nem bonito exercitado, sofisticado e tantos mais... É bonito doce... Singelo, colorido. Feito de seda ou tule, de jeans não...

Não gosto de ordem... Me disseram uma vez que as coisas só são nossas quando as marcamos... Estragamos, arranhamos, adesivamos.
Francamente, os livros que eu não grifo não são meus... O meu universo sempre tendeu a desordem... Há que haver conforto no imperfeito... Isso é tão humano...
Aliás eu amo as coisas humanas... Amo o que houver de frágil, de humilde e de carente. E queria que o ser humano fosse humano... Mas ele tem sido bem pouco.

Adoro contos de fadas, e arte corporal e moda e filantropia. E não sei me decidir entre o interior da Bahia e o reveillón da Times Square. E é bonito assim... Gosto de contradições... Gosto de alternar boy band s e Eddie Vedder... Ouvir Cazuza e Bocelli... Há que haver comédias românticas e documentários preto e brancos... Há que haver muito instagram e Sandro Botticelli... É que unanimidades são burras, e a não contradição é quase sempre ruim demais... Pois não se pode ser de todo bom, e o coerente aceita a completa imperfeição.

terça-feira, 5 de junho de 2012

.

mas a gente vive num tempo muito especial... em que as coisas tão muito possíveis, as distâncias tão muito pequenas. As vontades tão muito poderosas e acabam ficando também muito perigosas...Tenho carecido dessas conversas inconclusivas sobre a metafísica do convívio social... Sem pedantismos, sem teorias, sem arsenais de bibliografias... Somos, ali, pessoas e só... Pessoas pensantes, pessoas capazes de comover-se, é isso... Acho essencial discutir as polêmicas, acho essencial constatar como "o mundo está perdido"... Porque a não proposição de soluções mostra pra gente que existem outros perdidos, outros desiludidos, outros desgostados... E a identificação é essencial...Nunca soube ser sozinha de pensamento, sozinha de desespero... Solidão de convívio é suportável... Ser o último romântico é que não dá! Ser o último sensível é que eu não consigo..."hoje não dá, não sei mais o que dizer nem o que pensar... vou consertar minha asa quebrada, e descansar"

Ao amigo estranho,

Então você resolveu aparecer... Não bastasse existir, você tinha também que aparecer... E justo hoje, só pra me lembrar que aprecio muito você... Queria te dizer que nossa tarde me fez rir, me fez bem, me fez rever motivos pra sentir esse magnetismo por você... Imantado, inconstante, indecifrável, enfim...Queria dizer também que não te sinto paixões, nem coisas belas, dotadas de perspectiva, possibilidade ou conotações... Sem intenções, aliás - nem segundas, nem primeiras... Não é assim, não é vontade convencional, não é bonito, nem natural... É natural, aliás... Naturalmente esquisito - é desses sentimentos mais instintivos que verbalizados... E estou pra te dizer que você é caso único disso pra mim...Quis te dizer também que não tenho tido tempo de sofrer pelas suas mazelas ou de me preocupar com as suas sandices... Acho interessante que você encontre essa mãe de quem você tanto carece, mas minhas aspirações me impedem de candidatar-me ao cargo...Digo, enfim, que te desejo próximo de mim, se és ímã, nada melho que a pouca distância... E nunca resisti, não precisou, poxa...Que fique assim, caso singular, pessoa estranha... Fica bem, mas fica perto!

domingo, 3 de junho de 2012

ao que poderia ter sido (e não foi),

estou te escrevendo pra lamentar... lamentar potenciais desperdiçados, urgências negligenciadas, possibilidades dissimuladas.
pra te dispensar, perdoar, tentar te livrar daquele complexo papel de coisa que podia ter sido e não foi...
te queria assim, como roupa nova, coisa nova, sei lá.. antes de me traumatizar, de ter que te remendar, cansei de recomeçar... quero começar e só... sem segundas chances, sem perdões, cargas pesadas, malas de remorsos...
como tudo que não existe, você tinha a possibilidade maravilhosa de ter sido excelente pra mim... trazer equilíbrio, curar certas manias, certas psicopatias minhas..
sei lá, te queria simples, despreocupado, despreocupante. como tudo o que é só bonito, só saudável, só tranquilo. e não foi.
mas que bosta, não foi.


Rasgue antes de ler

não que suas acusações não combinem com as minhas usuais megalomanias, psicopatias, histerias, sei lá... Não que não haja por aqui gritinhos de orgulho ferido... É óbvio que sim e sim! Mas tenho andado sã demais pra não me defender diante disso. Dessa vez realmente não fui eu, dessa vez realmente não botei os pés pelas mãos! Fiz tudo certo... Nem te quis tanto assim, poxa. Tenho bebido demais, fumado demais e ouvido blues demais. Na verdade nem tenho, mas tenho pensado nisso, tenho me sentido assim - como esses velhos melancólicos em pubs enfumaçados ao som de um bom sax... E isso não tem nada a ver com nada, eu sei... Mas eu tenho. E tenho me empurrado, me apertado contra paredes imaginárias demais, tenho repetido demais, tenho tolerado demais... Não que isso não combine com as minhas usuais psicopatias, mas sei lá. Tenho cobrado muito e você tem me impressionado tão pouco, tem sido tão louco e bobo e raso e pequeno... Acho que sempre gostei mais de 'gostar' do que de viver, de escolher que de ganhar, de lembrar que de viver... Mas é que tenho achado todo mundo meio vazio demais... Tenho pensado dia a dia como nasci no tempo errado, no lugar errado... Como queria de volta um Cazuza, um Renato... Como queria aqui perto um Zack Condon, com seus acordeões... E tenho andado sozinha demais nesse meu jeitinho. A verdade é que pensar nisso têm me feito me amar demais. Caramba, você não imagina o valor que eu tenho dado a esse espacinho aqui na minha cabeça que é só meu... To tão ciente da delícia que é ter a mim mesma... Sei lá, sei lá, quem é que sabe, quem é que precisa saber?! Que coisa... E é por me sentir assim que tenho sentido um apreço, um apego, uma fascinação, talvez, pelos infelizes que não tem nem mesmo esse espaço... "Ter inimigos fora de si é perturbador, tê-los dentro da própria mente é assustador" (O Futuro da Humanidade). O mundo tá tão pequeno, tamanho único, individualizado, individualista e ao mesmo tempo massificado... É estranho, mas tanto é possível que é verdade... E a gente ainda se julga em posição de classificar médicos e loucos, de fazer divisões, classificações e comparações futilizadas. Cansei - por hoje eu cansei... "Parece cocaína, mas é só tristeza..."