segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Quebra-cabeça

De tanto quebrar a cara. Perdendo as chaves de casa, perdendo o freio.
Todos os pedaços de tudo que há nisso de louco e desordenado. De insano e indispensável.

Não suportava viver naquele lugar. As paredes o sufocavam, era tudo por demais pequeno e sem graça. Até considerava que estivesse bom, por ora, mas cada minuto a mais ali aproximava o agora do pra sempre. Porque ninguém nunca sabe a lonjura do seu destino. Ninguém nunca imagina quantos dias cabem no pra sempre de cada um. E vivia em claustrofobia, em desacerto.
Um dia, um mês, um ano que fosse ali era razoável. Mas para sempre não! Impensável.

Agora do lado de fora. Agora não, há um tempo. E dedicou-se a sentir saudade do que não curtia. Dedica-se no presente a endeusar o que nem havia de bonito naquele cômodo.
A verdade é que não sabe viver sem as próprias misérias, sem os próprios problemas. Não fomos treinados para viver sem drama, sem conflito. Para passar por fases de não-sentimento.

Parece precisar de ao menos uma razão de se queixar com um requinte de soberba. Praquela sensação ótima de "reclamar de barriga cheia". E o que há de fútil dessas mazelas eu já nem sei quantificar. O que há de autoral nesses lamentos eu me recuso a denunciar.

Quebra cabeças, batata quente, telefone sem fio - nunca soubemos brincar sem nos machucar. Flertamos e nos entretemos com o incompleto, com o ferido, com o quebrado. E não há como crescer sem impressões disso.