terça-feira, 26 de novembro de 2013

Sobre ruínas

Um belo dia lavou o rosto, trocou de roupa e respondeu mensagens. Abriu a porta da casa, do quarto e do pensamento. Deixou invadir sem medo, sem perguntas e sem cuidado.
E o invasor foi hábil, não deixou de preencher nenhum dos espaços concedidos e ainda se esgueirou para outros mais... Se expandiu e se acomodou. Se espalhou de norte a sul. E sabe que vai levar pedaços importantes quando for embora.

Não é só vazio, é perda de pedaços. É marca deixada em cada coisa que ficar. É perigo, é problema e é uma necessidade terrível de reconstrução.

Quanto tempo será que levaria pra se recuperar de uma pancada dessas?
Que tipo de aprendizados haveria nisso? Não há muito de bom que ver nesse tipo de retaliação. Não há muito de forte pra recosturar os retalhos. Pra remontar os blocos, pra encontrar pedaços novos e ignorar os antigos e tão marcados.

E quando tudo estiver novo de novo, há de chegar outro invasor. 

sábado, 12 de outubro de 2013

Sentindo

As coisas eram piores naqueles dias. De muitas formas, mas em todos os sentidos? Eu nem conheço todos os sentidos...
Acho aliás que eu era gustativamente mais feliz. Mas só. Ah não, no sentido ínfero-superior fui mais feliz também... A minha vista do céu era belíssima daquele terraço do décimo primeiro andar, no fim do corredor.
Os duplos sentidos sem dúvida eram piores naqueles dias, eu tinha muito medo dessas coisas - achava tudo tão feio, tão proibido.
Os meus sentimentos sentidos eram mais tristes também, penso. Porque aqueles pequenos pedaços de passado pareciam (sem querer abusar do P) mais fortes... ou eu é que era menos forte, não sei. A gente oscila né? Eu lia mais. Lia coisas que eram boas demais, aliás. Eu era nesse sentido subjetivo, literariamente, mais feliz. Mas poesia fragiliza né? Dá pra gente uma paixonite pelo drama... E a gente faz questão de reproduzir as tramas na vida real.
Mas minha solidão era a um. Um pouco mais triste daquela do Cazuza, a dois. E eu não consegui ainda comparar nada nesse sentido

domingo, 8 de setembro de 2013

Azul marinho

A gente desaparece. E se esquece...
Mas não é assim, falta de amor. É sobra de loucura, por acreditar sem querer que as maiores importâncias do mundo são a atividade e a produtividade.

 Mas não adianta alguém dizer isso pra você e nem mesmo adianta você aqui pronto pra ler. Você só vai perceber quando tiver morrendo de saudade sem nada mais pra fazer.
A gente se acomoda... Se incomoda por tão pouco. A gente se esquece, 

Tô sentindo sua falta.

domingo, 18 de agosto de 2013

Sobre um agora, pertinho.

Mas amor, daqueles bonitos, é morrer de saudade (de quem tá do lado da gente, pertinho).

E ficar feliz, assim, com exagero, é sentir saudade também (do tempo presente).


domingo, 7 de julho de 2013

dia de Espumas e "tempo perdido"

E foi achando seu porta jóias cada vez menos bonito, menos brilhante. E tanto encanto diminuira, ou, pesarosamente, sumira. Mas disseram que "não se acaba assim, feito espumas ao vento."... só que isso ela realmente não podia afirmar.
Porque, meu Deus, no início era tão belo e a fazia tão feliz. Ou será que não fazia? Será que ela só estava feliz assim, por si, e o objeto por perto levava crédito indevido?
Acho que talvez essa estória toda passe por aí. Às vezes quem tem perdido o brilho é ela, e já não tem mais aqueles olhinhos felizes de otimismo. E nem porta-jóias, nem porta-retrato, nem coisa alguma muito bonita ou brilhante.

Surtou. Pudera fugir. Sair voando de avião, assim: sozinha. Num dia daqueles em que música nenhuma anima e as mais tristes são pouco tristes.
E ela morreu de medo de ter se transformado nas coisas que nunca desejou. E lembrou que jurou só aceitar ser feliz, mas no meio do caminho deu cansaço, se acomodou. E que não é tão fácil quanto se supõe livrar-se de uma coisa pouca. Ficou louca.

Acordou e não tem mais o tempo que passou. Desesperou: ainda tem todo o tempo do mundo, pra viver do mesmo jeito parado, acomodado. "Sempre em frente!" com tão pouca coragem nunca pareceu tão 'pra trás'

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Sobre apostar com santos

Era uma vez um santinho.
Ele pagava as promessas que não realizava.
Esfolava os joelhos em escadarias, não comia doces, não podia cortar o cabelo e passava os dias dando 100 pulinhos em nome das chaves de casa que nunca foram encontradas.

Coitadinho do santinho. Pagando pelas alegrias que não podia dar. 

E a gente achando que as promessas não realizadas deixavam de existir.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Sobre o segredo sentido.

E eu tenho um medo enorme de pronunciar em voz alta, que eu to muito perto de achar que as coisas já padecem, que ela já agoniza por dentro.
Eu me recuso mesmo a falar, parece que em som fica mais grave, mais triste. Parece que a falta de anúncio disfarça a verdade.
Mas o gostinho de final tá nela, em pensamento, pelo menos.

E ela tem corrido desesperada, atrás da sua indefectibilidade perdida. Da sua recém envelhecida fantasia. E dentre os seus tantos carmas esse aqui talvez fosse mais um. Talvez houvesse prazo de validade, houvesse início, meio e fim, não sei.
Ou início e fim, pode ser também. Não sei se ainda há - ou se houve - tempo pra meios.
Meio chato, meio absurdo, meio deprimente até. Não devia. Não devia se esvair assim tanto sabor e tanto cheiro de vida.

E não é que não haja vontade. Há muita. Mas é como se as partes fossem parando de lutar... Ou pior, fossem confundindo tudo e começando a se atacar. Se onfeder e se ferir. E aos poucos o todo vai se desgastando. E ela começa a se culpar, a questionar a própria sanidade mental.

E no mais triste filme, ela agora é tão central. E tá de volta a música triste no rádio ligado: "Onde está você agora?"

domingo, 17 de março de 2013

Monólogos de Vida e Morte


Sobre a pulga terrorista da orelha imaginária.

Eu tenho dormido assustada. Fechando o olho pra esperar desaparecer o pensamento.
Ah, mas de olho fechado piora. Toma muito mais vida, vira pesadelo com bastante autonomia visual...
Ah, eu tenho chorado por dentro. E me dói tanto que parece que "meu dentro" já se encheu. E que tá bem na hora de extravasar.

Eu tenho esperado bastante, constante, disciplinada. O fim dessa coisa toda aqui. Que já nem sei se é bom ou se é dor. Porque no começo era dor boa. E agora é só dor, sem ser bom. E tantas vezes é só bom, sem ser dor. Não se mistura mais, me mistura. Me confunde. Me desespera.
Ah, nesses dias difíceis é complicado explicar

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

não. eu não tenho tido muito tempo para costurar. e fico morrendo de medo que você enlouqueça outra vez com meus retalhos guardados.
tenho escondido-os. mas você tá perigosamente presente.
então a minha solução recente é não alinhavar. as agulhas tão um pouco enferrujadas... não sei, acho que já não enxergo tão bem, já não tenho tanta facilidade em perpassar a ponta da linha pela brecha no metal. perdi a prática, perdi a coragem até.
não tenho criado muito, porque morro de medo de você me compreender demais. e invadir minha cabeça.
por isso estou assim, debaixo da mesa, com um pedaço pequeno de pano e sem um projeto a criar. mas é que furar os retalhos com a agulha é uma coisa que sempre me fez aliviar a pressão do espírito.
as pessoas tem suas manias tão pessoais. seus milhares e bilhares e trilhões de manias. e, é claro, Freud explica as bizarras, mas o verdadeiro ponto fraco da psicanálise é aquela fobia discreta, é aquele delírio calado, é aquela obsessão imperceptível que ninguém nunca viu como algo a se pesquisar. e que todo mundo tem todo dia.

lá vou eu, de novo, com a minha mania estúpida de complicar.
velhas portas mentais devem permanecer cerradas. elas devem ter sido trancadas por alguma razão, não?
mas lá vou eu, pontos em cruz, bordados em nó. cada retaliação artesanal é uma dose de vodka. ninguém melhor que a gente conhece as nossas cachaças. e a gente tantas vezes conhece sem nem saber. só faz, só sente necessidade de fazer.
mas não é bem isso que eu ia falar.
ia dizer que te temo. te temo porque te amo e te gostar tem mudado demais a pessoa que eu sou. eu não sou do tipo que veleja, eu era do tipo que costura. e eu não sou do tipo que muda, eu sou do tipo que só é mesmo.
e não costurar é estranho agora. fazer o tipo de coisa que gente feliz e bem resolvida faz é estranho. porque eu passei a maior parte da minha vida não sendo feliz e bem resolvida. e eu costurava. e costurar é o que eu sei fazer.
eu não sou do tipo de pessoa que veleja.
mas por que é que você se importaria com isso? e como é que você entenderia tanta metáfora alinhavada?

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Divagar devagar

Precisava ter acontecido. Você escapou. Enrolou, meteu os pés pelas mãos, vai saber. Foi por um segundo, um ato falho, uma fala errada, uma outra não dita e pronto - mudou-se o curso de uma vida.
Mas era pra ter acontecido. E um destino mesquinho jamais se deixaria contrariar.
Vocês já não se veêm. A distância física é de um poder incrível. Há mais ali entre os quilômetros do que em um mundo inteiro.
As coisas parecem consolidadas até... A impressão de ausência já passou. Você se esqueceu de estranhar. Mas pensa muito - e isso ainda não se pode controlar. Pensando bem, dizem que é possível...mas proibiram, dá cadeia.. Acho que a nirvana é um limbo sensato, sereno e equilibrado demais... E por consequência ameaça essa nossa colméia do politicamente correto e engomado.
Mas não é sobre nada disso que queria conspirar.

Um destino se traçou. Essa frase arrepia. A gente se sente meio ridículo, meio pequenininho... "ohh, i'm fortune's fool". Mas, enfim, se traçou. E ele se vai cumprir, esteja certo.

Penso que é quando você se distrai que o acaso trabalha com mais persistência pra se concretizar. Ou isso, ou não esperar é revoltante. Não esperar é dormir, é deixar vidas passando. Espero, me desespero, especto.