quarta-feira, 28 de março de 2012

Juri Popular

As pessoas experimentam uma comoção muito grande quando assistem às tragédias no jornal... Mas superam isso logo que começa a novela. Me preocupa muito mais o depois, o invisível, o que não consta na reportagem... Me preocupa o filho caçula da vítima que não foi entrevistado, mas passará bons anos perguntando pelo pai... Me preocupa demais o estrago psíquico no motorista que cometeu homicídio culposo... Me incomoda qualquer tristeza que vai perdurar quando o ibope da notícia se esvair. Uma vez só tente ver a tragédia do Realengo sob a óptica de uma das faxineiras que limparam o sangue na escola, tente pensar no que sentem até hoje as pessoas que estavam no ponto de ônibus quando João Hélio passou em via sacra. Tente pensar nos lutos que não viraram notícia. Que nossa comoção se reforme, se informe, enfim.

domingo, 11 de março de 2012

fatalidades a parte...

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse neste domingo estar "profundamente triste" pelo massacre de 16 civis no Afeganistão, mortos supostamente por um soldado americano.



Meus prezados amigos afegãos,

Nós queimaremos vosso livro sagrado, pisotearemos vossa tradição, desconsideraremos vossa humanidade...
Invadiremos vossa pátria, fincaremos vosso solo com nossas tendas militares. nós nos banharemos em vossas águas, ergueremos em vosso céu a nossa bandeira.
Abusaremos de vossas mulheres, assassinaremos vossos familiares - idosos ou crianças. descarregaremos nossas psicoses em nossos gatilhos... exploraremos vossos recursos naturais, nos apossaremos da vossa economia e decidiremos vossa política.
Mas ainda assim, como num passe de carisma e reciclagem de caráter, enviaremos nossas simpáticas e repulsivas condolências. negaremos, nos esquivaremos - incidente, fatalidade - nomearemos assim.
Sem mais, estejam com Deus - o nosso, nunca o vosso.
Once again, I apologise for any inconvenience.

Sincerely,
The United States of America government.

arte-fato

Engano pensar que amor é a presença crua de alegria... relacionamento é a coexistência harmônica de velhas dores que por si só se confortam, se amenizam... já vi amores felizes que dividiam-se entre o colapso e o fim... porque feliz a gente se basta, o que pede companhia é a tristeza... e ainda não vi beleza maior que a do choro solidário... a crise nada mais é que a indiferença entre as tristezas, a gente não suporta ser ignorado quando há medo...
ode é paixão, amor é elegia... sem mais.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Pra minha coleção de dramas que ninguém mais aguenta ouvir

mas o pior dos meus traumas vai ser sempre o mais recente... não sou boa em comparações e melhor ou pior sempre me pareceram adjetivos absolutos demais... meu amor de hoje é o maior, porque já nem me lembro daquele de ontem...e pro meu choro vale o mesmo!
é que por fim, o que me assusta é ver que você me conheceu a fundo demais e não sofreu o menor encantamento... Eles dizem por aí que ser você mesmo é uma potente arma de sedução, mas isso é quase cruel se não há sucesso. Tenho a impressão de que você me dissecou, me vasculhou e não achou o que pudesse te cativar... O que diabos me resta então para continuar nessa empreitada tola de pagar pra ver alguém se apaixonar? Recolher os meus caquinhos nunca cortou tanto as minhas mãos - pelo menos que eu me lembre.

cada qual com seu carma aparente.

beleza é peso. é desafio. sorte também é difícil de se administrar,
quem é bonito deve passar o resto da vida tentando provar conteúdo e sendo bonito demais pra ser médico, bonito demais pra ser simpático, bonito demais pra ter tido algum mérito. todo mundo cresce pensando que o esforço é pros feios, é pros pobres, é pros burros.
e é até bacana o lado desavantajado da situação... porque a esse naturalmente se impõe um brilhantismo ao sucesso..."poxa, ela é tão interessante que até parece mais bonita.", "caramba, ele veio de uma pobreza tão extrema e conseguiu ser medíocre."
nossos julgamentos parecem sempre meio cegos pelo que enxergamos na superfície. a gente só se esquece de que tá julgando cruelmente um fator aleatório demais, cruel demais. a gente só se esquece que ninguém determina a cor dos próprios olhos, ninguém determina os traços faciais que terá. existe mesmo uma carga de responsabilidade por características assim? qual é mesmo o mérito em se ter uma aparência naturalmente admirável? existe mesmo fracasso em não se destacar na loteria genética?
e resultam desses questionamentos patéticos cirurgias plásticas precoces, inacreditáveis traumas de auto-estima e aquela nova modalidade de "gordinho-feliz", gente que se conforma com o ridículo e reforçam ao máximo a ideia de que não se ofendem com nada... se de fato isso lhes acontece, são super heróis, meus parabéns. mas pelo que sei dessa espécie aqui, o comum é a gente se importar - e muito - com o que pensam de nós. nos derrubamos as vezes com o pouco que sabemos, imagine só que poder teriam as maldades que nunca nos foram ditas? que Deus nos livre de tamanha tristeza.

e por fim, que tal soa valorizar mais os valores que possam de fato ser batalhados e adquiridos? só pra assim deixarmos que os inteligentes sejam bonitos, que os bonitos sejam inteligentes, que os feios ouçam a música que quiserem e que em geral as pessoas tomem as rédias dos seus carmas.



"Saber voar, fazer mudar
Queria ser diferente
De tanta gente, por que, meu Deus?
Falar pro mundo o que eu penso
Às vezes posso ter algo pra te acrescentar
Não basta querer, tampouco ser, me digam o que vai
bastar..."
(Se Ela Nunca me Amar - Ben Roots)