quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

não. eu não tenho tido muito tempo para costurar. e fico morrendo de medo que você enlouqueça outra vez com meus retalhos guardados.
tenho escondido-os. mas você tá perigosamente presente.
então a minha solução recente é não alinhavar. as agulhas tão um pouco enferrujadas... não sei, acho que já não enxergo tão bem, já não tenho tanta facilidade em perpassar a ponta da linha pela brecha no metal. perdi a prática, perdi a coragem até.
não tenho criado muito, porque morro de medo de você me compreender demais. e invadir minha cabeça.
por isso estou assim, debaixo da mesa, com um pedaço pequeno de pano e sem um projeto a criar. mas é que furar os retalhos com a agulha é uma coisa que sempre me fez aliviar a pressão do espírito.
as pessoas tem suas manias tão pessoais. seus milhares e bilhares e trilhões de manias. e, é claro, Freud explica as bizarras, mas o verdadeiro ponto fraco da psicanálise é aquela fobia discreta, é aquele delírio calado, é aquela obsessão imperceptível que ninguém nunca viu como algo a se pesquisar. e que todo mundo tem todo dia.

lá vou eu, de novo, com a minha mania estúpida de complicar.
velhas portas mentais devem permanecer cerradas. elas devem ter sido trancadas por alguma razão, não?
mas lá vou eu, pontos em cruz, bordados em nó. cada retaliação artesanal é uma dose de vodka. ninguém melhor que a gente conhece as nossas cachaças. e a gente tantas vezes conhece sem nem saber. só faz, só sente necessidade de fazer.
mas não é bem isso que eu ia falar.
ia dizer que te temo. te temo porque te amo e te gostar tem mudado demais a pessoa que eu sou. eu não sou do tipo que veleja, eu era do tipo que costura. e eu não sou do tipo que muda, eu sou do tipo que só é mesmo.
e não costurar é estranho agora. fazer o tipo de coisa que gente feliz e bem resolvida faz é estranho. porque eu passei a maior parte da minha vida não sendo feliz e bem resolvida. e eu costurava. e costurar é o que eu sei fazer.
eu não sou do tipo de pessoa que veleja.
mas por que é que você se importaria com isso? e como é que você entenderia tanta metáfora alinhavada?

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Divagar devagar

Precisava ter acontecido. Você escapou. Enrolou, meteu os pés pelas mãos, vai saber. Foi por um segundo, um ato falho, uma fala errada, uma outra não dita e pronto - mudou-se o curso de uma vida.
Mas era pra ter acontecido. E um destino mesquinho jamais se deixaria contrariar.
Vocês já não se veêm. A distância física é de um poder incrível. Há mais ali entre os quilômetros do que em um mundo inteiro.
As coisas parecem consolidadas até... A impressão de ausência já passou. Você se esqueceu de estranhar. Mas pensa muito - e isso ainda não se pode controlar. Pensando bem, dizem que é possível...mas proibiram, dá cadeia.. Acho que a nirvana é um limbo sensato, sereno e equilibrado demais... E por consequência ameaça essa nossa colméia do politicamente correto e engomado.
Mas não é sobre nada disso que queria conspirar.

Um destino se traçou. Essa frase arrepia. A gente se sente meio ridículo, meio pequenininho... "ohh, i'm fortune's fool". Mas, enfim, se traçou. E ele se vai cumprir, esteja certo.

Penso que é quando você se distrai que o acaso trabalha com mais persistência pra se concretizar. Ou isso, ou não esperar é revoltante. Não esperar é dormir, é deixar vidas passando. Espero, me desespero, especto.