terça-feira, 16 de junho de 2015

Café de manhã

E eu que acordei em ritual. Tomei 3 xícaras de café que me sintonizassem com o mundo vígil, escovei os cabelos e me sentei em frente a minha janela com o mundo.
Vim aqui pra te escrever pelo que talvez seja a última vez. Isso porque fiz uma descoberta impressionante hoje, que (talvez) se profundamente assimilada, ponha um ponto final a todos os meus lamentos mudos que me prendem ao nosso percurso. Que me amarram ao pé da nossa cama, que me encarceram na sala de cinema da nossa última sessão.

O que descobri foi que, aquilo tudo que me dói, porque desejo te contar e não posso, só parece tão bonito agora. Hoje eu vi uma poesia incrível (e cheia de espinhos) no fato de que tinha aquele bolo verde de limão pro café da manhã. Talvez eu precise te lembrar que um dia eu já fiz esse bolo pra gente e que - adivinha - foi sua primeira experiência culinária alguns meses mais tarde. E que isso foi doce em muitos níveis diferentes.
Hoje eu teria te contado isso se pudesse, mas qual não foi meu choque ao perceber que, se juntos, não haveria nada de profundo nesse relato. E foi justamente esse tipo de dessensibilização que me fez infeliz no nosso mundo. Não que fosse só seu problema, não que fosse anormal dos encontros mais longos, mais estáveis. Mas é frio e me desconforta. Eu percebi que o que me expulsou, foi justamente o fato de que bolos verdes não nos comoveriam quando juntos. E eu não consigo viver algo em que bolos verdes não importem.

Hoje, não consigo. Hoje preciso priorizar todas aquelas coisas sobre as quais já te falei um dia. Todas aquelas coisas que me fazem ressonar de alguma forma e que nunca te tocaram. As coisas que me fazem sentir que a alma existe. Hoje eu preciso cuidar do meu cacto, ordenar meus livros, acreditar naquilo que eu sei que preciso sentir. E perder esse medo estúpido de precisar da gente de novo. Acreditar em tudo aquilo que eu escrevi um dia sobre a felicidade retroativa do ocidente, que faz aquilo que passou parecer muito mais belo do que de fato foi, só pra ver doer mais fundo no presente.
Sofrer é passivo, fácil, é bonito. Doer é martirismo, é elevação, é absolvição pros nossos pecados secretos. "que a dor no fundo esconde uma pontinha de prazer" (Cazuza)



"Belo é o que deriva de uma necessidade psíquica interior. [...] A cor é a tecla. O olho é o martelo. A alma é um piano com muitas cordas. O artista é a mão que, com esta ou aquela tecla, faz vibrar a alma." 
W. Kandinsky

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