Quarta, quinta, tic-tac, sexta, tic, sábado, tac.
Domingo tic-tac, tic-tac.
Segunda e terça, tique-TOC. Foi-se semana - Ufa!
Foi-se mês, Pera... Foi-se o ano - Pára!! Há tanto que me viver.
Sendo vida o que? Tempo de coração batido? Tempo corrido?
Ou pensamento, abraço recebido, assunto pensado?
Sendo vida o que foi visto? Assim, viver, que em algum idioma antigo deve ter significado a fusão de vir pra ver. Vi-vê: abre o olho, rapaz.
Sendo cada vida uma passagem, uma paisagem, devaneio ou piscar que a maioria nem notou. "Viver a vida à-toa", frase-crase quase ambígua: é 'à toa' advérbio de viver, falta de porquê? Ou é 'à-toa' adjetivo, no sentido concedido de livre, de domingo: "Viver a vida em domingos". Muda tudo, não?
Me gostam muito os domingos. Gosto deles também. Dia de café da manhã infinito: não esclareceram que o limite da sua liberdade valia até onde começava o direito dos almoços: acabam empurrados pelos cafés da tarde, que não costumam se atrasar.
Viver a vida à toa, assim, sentindo a terra e a Terra. Nadando com peixinhos e tentando não perturbar. Viver um ou outro ano sabático, emocionante, mas numa vida dominguíca - domênica? Domínica?
Não apostar corrida - eu só vou se for devagar: fazendo trilha, fora do trilho - não tem destino, nem tem chegada, só o caminho - e é importante caminhar. Tic-tac-tic-tac - te aconselharia desacelerar.
"O Guardião do Tempo e seus Capangas Relógios" - Jacek Yerka
ps.1: À toa – sem hífen, locução adverbial significa “a esmo, sem objetivo definido, sem proveito”: “Ficou andando à toa por aí”, À-toa – com hífen, é locução adjetiva e significa “desprezível, sem importância, inútil”: “Aquele é sujeito à-toa mesmo”.